Cena 11 - Mercado

Entra no mercado da Ribeira, vê as bancas!

Tenta ignorar a inquietação que sente, aquele momento foi muito forte! Diferente do que alguma vez sentiu!  

Olha para as bancas e começa a procurar pelos legumes! Tentando criar uma lista de cabeça do que necessita para levar para casa! 

Passa por três bancas, e para na banca em que um senhor de boina dos seus 70 anos, escolhe alguns dióspiros para um saco transparente.

O aspecto é delicioso, carnudos e maduros. O senhor olha-o e sorri, e começa a falar:

- Já percebi que é cá dos meus!

- Desculpe?

- Gosta da fruta madura! Olha para a fruta com paixão!

- Paixão?

- Sim! O seu rosto está focado no vermelho deste dióspiro, não o deixa de olhar!

- Sim! Faz-me lembrar um episódio da minha vida!

- A sério? Hum, pela sua cara, um velho amor?

Silêncio!

Continua: - Creio que acertei! E pelos vistos dos grandes e fortes!

Silêncio!

Continua: - Faz-me lembrar a minha Maria! 

Sorriso cúmplice

Continua: - Uma grande história de amor, tanto no tempo como na intensidade!

- A sério? Grande como?

Continua: - Durou 50 anos! Ela morreu a um ano! Coitadinha! Mas morreu feliz! Fizemos tudo o que era para fazer! E dizemos tudo o que era importante dizer, até as parvoíces! 

- Como consegue viver sem ela?

Continua: - Vivendo, aprendendo, sorrindo, amando os nossos filhos, os netos! Indo aos vários locais, onde fomos felizes! Rindo!

Silêncio! Olha atentamente!

Continua: - Sabe, quando amamos realmente é quando somos livres, amamos o outro por nos completar e não por ser a nossa metade! Quando se ama de verdade, conseguimos fazer tudo pelo prazer de o fazer! Até aprender uma nova língua. Sabe depois da Maria partir, eu decidi aprender danças de salão e espanhol correctamente! 

Sorri silenciosamente!

Continua: - Para ajudar a suportar a ausência, aprender algo ajuda a passar! Já começou a aprender algo?

Admirado, responde - A pouco passei por uma porta azul, Piano Aquário, ouvi uma senhora a tocar, e senti uma vontade antiga de aprender a tocar piano!

- Piano Aquário? Ah viu a Vera, ela é professora de Piano! Velha amiga! Ela veio para Portugal a mais de 30 anos com um papagaio nos ombros. É professora no Conservatório de Lisboa. Se quiser eu levo-o lá! Ela dá aulas as vezes ao sábado. É uma boa oportunidade de a conhecer!

- Quer dizer...

- O destino quis que nos encontrássemos, por algo motivo! Se calhar é para você descobrir o seu dom, e lidar com a sua dor! Tocar piano ajuda a libertar a alma. A minha Maria tocava maravilhosamente, mas eu não sei tocar nada!

Sorri!

- Vamos então despachar! Que temos de entregar a mensagem e criar o conhecimento! A história escreve-se por estes encontros!

- Não creio que venha a tocar, não tenho tempo nem vida! 

- Se tem tempo para sofrer e chorar, tem tempo para aprender e treinar! Se sentiu algo forte, é porque foi um chamamento para tocar! E eu vou entrega-lo lá!

- Deixe estar, não se preocupe!

Agarra suavemente o braço e fala: - Não deixo! Quando a magia da vida acontece nos encontros fortuitos, deixar fugir a oportunidade pelo medo de tentarmos é deixarmos a felicidade fugir, como areia que foge pelos dedos da mão. é como Shakespeare dizia na personagem de Lúcio - Não passam de traidoras nossas dúvidas, que nos privam, por vezes do que fora nosso, se não tivessemos receio de tenta-lo. Vamos lá então, vou pagar e seguimos já para o Piano Aquário. 

Sorri sem conseguir falar, o momento é solene para dizer alguma coisa! 





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