Contos de Natal - Conto Terceiro - Estação de comboios

Todos os dias, ela olhava para o outro lado, entre as leituras de um livro! Os livros eram os seus maiores companheiros, mais fieis que os humanos!

Simpáticos como os pássaros da estação que paravam sempre a espera das migalhas que ela deitava! Eram pardais! Simpáticos e brincalhões!

Por entre esperas via muitos jovens em bando ou solitários, de mochila às costas a procura de um lugar para sentarem! Quando não havia, era mesmo no chão, com as mochilas ao lado, cheios de olhares profundos alguns deles, principalmente os solitários, tal como nos livros, eram lobos solitários no seu caminho.

Um certo dia, diferente dos demais, viu um jovem já mais velho, mais maduro, mais silencioso, mais profundo, sentou-se ao lado dela. colocou a mochila na cadeira. Na mochila estavam vários registos de países, como se fosse um passaporte ambulante! 

Abriu um livro e começou a ler, ficou admirada, era na sua língua materna! Ficou a olhar fixamente para ele como a tentar perceber porque razão ele ia de viagem!

A sua curiosidade era devassadora, contudo não falava com estranhos, evitava ao máximo falar com estranhos. 

Ele olhou-a, simpaticamente esboçou um sorriso por entre a barba negra carregada de histórias e vivências. Os olhos eram escuros, densos e impactantes, mexeram com ela, acabando por estremecer a sua frente.

Ela corou, ele sorriu e começou a conversar!  Ela gostou da voz! E ele acabou por dizer que a conhecia de todos os dias a ver a apanhar o comboio para o trabalho! Tinha curiosidade em conhece-la, afinal quem seria a mulher que lia clássicos e novidades com uma sede devoradora?

Ela explicou que trabalhava numa livraria, ele contou que estudava história e fazia investigação nas áreas de arqueologia. Explicou que ia para uma viagem de trabalho no interior do país. 

Foi a vez dela sorrir e dizer que ia para o trabalho mais modesto, vender livros. Explicou-lhe que trabalhava numa livraria que era um museu vivo, ele reconheceu a fama da loja. 

Lembrou-se de alguém lhe dizer que o local onde ela trabalhava era o melhor local que conjugava o novo e o velho, e a empregada era uma mulher sábia de tanto conhecimento que tinha! Tinha resolvido teses de doutoramento somente com as recomendações certas e os livros adequados! 

Ele viu-a e sentiu-se contente! Perguntou-lhe se poderia ir a loja quando voltasse da viagem, ia estar uma semana ausente! Ficaria mais duas na cidade, e depois embarcaria para o estrangeiro, umas escavações numa pirâmide maia.

Ela disse que sim! Os olhos de ambos brilharam! O silêncio habitou o momento, mas já não se sentiam solitários!




Passado um ano e meio, um casal com mochilas se aproximou do banco, iam de viagem, por interrail pela Europa.

Primeira viagem do resto das suas vidas!

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