Amor e Livros

Recentemente saiu numa página da internet um pequeno concurso, para explicar quem merecia receber o Nobel do melhor leitor!

Fui pensando em responder, todas as minhas qualidades enquanto leitora e merecedora de um Nobel, mas fui vendo que honestamente não tenho qualquer razão para merecer tal distinção. Pois bem... acho que será melhor explicar. 

A minha relação com os livros é deverás complicada como com qualquer humano, alias trato cada livro como se fosse um amigo, um companheiro de viagem, um amante que sussurra palavras quentes de um qualquer momento de prazer, como o olhar o por do sol, com o livro no meu regaço!

Não os respeito, já que os levo para qualquer lado, e nunca sou o fiel o suficiente, tendo em conta que levo 5 ou 6 de cada vez! Seja o romance que espreita nas horas vagas, seja o livro técnico da área de intervenção para relembrar um último pormenor, seja até aquele livro de ficção cientifica, escondido na mala a espera da luz para se mostrar, seja livro que recomendo para reflexão do seu bem estar, seja a poesia bela que saltita por momentos de 2 minutos para recitar um poema. Seja a banda desenhada, que olha para mim com o sorriso estampado na capa a apanhar o meu lado infantil que não quer crescer! 

Se eu mereço o Nobel de melhor leitora, nem de perto! Quando chego a casa, vão comigo para a cabeceira da cama, e amontoam-se com os outros 7 que estão por lá, sobre as mais diferentes temáticas! E quando os deixo a descansar de uma semana louca, simplesmente agarro outros dois ou três e levo para uma caminhada, com o peso da leitura atrás, acreditando piamente que os vou ler a todos! Tiro um após uma paragem, olho-o nos olhos e abro a capa, sigo para a leitura, escapando como por artes mágicas da realidade deste momento, do aqui e do agora, e partindo para uma realidade alternativa, que me leva a pensar, a reflectir sobre o mundo, a vida, colocando-me no meio de uma batalha, e me permite o voar e acreditar no impossível. 

E quando chego ao final da caminhada, paro para comer alguma coisa e lá ficam eles um ou outro em cima da mesa e outro colocado na mochila, aguardado com o bloco dos desenhos, falando entre si, sobre as minhas preferências. E de tempo a tempo surgem os acidentes, um copo de água que é derrubado e banha todas as páginas dos vários livros, e são as memórias das vivências que fazemos juntos. 

E as bordas dos livros técnicos, escritas com reflexões e poemas forçados de uma tentativa de olhar o mundo por outra perspectiva, gerindo a emoção com que me prendem naquele momento de pura intimidade. 

As gargalhadas que dou, as lágrimas que teimam em cair quando a história ainda vai a meio, o choque de não conseguir processar o grotesco que leio e que se depara perante mim! A sensação de posse que alguns deles tem sobre a minha alma, a sensação da lentificação e aceleração do tempo, esse companheiro de viagem! A vontade de alguns dias em chegar a casa e simplesmente ficar no canto ao lado da luz e saber que amanha não há compromissos e ler, ler sem parar, como se não houvesse um amanha. 

Não o mereço! Os livros são os companheiros de todas as horas, mesmo quando estou acompanhada, o desejo secreto de tirar um e simplesmente ler, sem ter de ligar a qualquer uma conversa que decorre ali ao meu lado! A solidão da leitura e o prazer de viverem comigo todas as horas da minha vida, até quando agarro a mochila e parto pelas estradas do mundo. 

Nunca vou Só! Comigo os meus livros conhecem o mundo, outras culturas, outros realidades, e por entre as suas páginas estão todas as lembranças da nossa relação e dos momentos em nós partilhamos com os outros. 

Por isso não mereço o Nobel! Porque para mim os livros não são um objecto inanimado, são uma face de alguém que num dado momento decidiu partilhar a sua alma com o universo, e eu escolhi receber essa partilha, enquadrando ao meu dia a dia frenético, com um sorriso e uma esperança de que num futuro longínquo, com os meus cabelos brancos possa sentar-se ao sol, bebendo um chá e lendo com calma e tempo todos os livros que me faltam para eu crescer! Por isso não o mereço! 

Feliz Dia do Livro!








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