Passeio ao Campo


Meu Amor! Meu Amante! Meu Amigo! 
Colhe a hora que passa, hora divina, 
Bebe-a dentro de mim, bebe-a comigo! 
Sinto-me alegre e forte! Sou menina! 

Eu tenho, Amor, a cinta esbelta e fina... 
Pele doirada de alabastro antigo... 
Frágeis mãos de madona florentina... 
- Vamos correr e rir por entre o trigo! – 

Há rendas de gramíneas pelos montes... 
Papoilas rubras nos trigais maduros... 
Água azulada a cintilar nas fontes... 

E à volta, Amor... tornemos, nas alfombras 
Dos caminhos selvagens e escuros, 
Num astro só as nossas duas sombras!... 

Florbela Espanca, em "Charneca em Flor" 

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